sábado, 10 de abril de 2010

Portugal: Testemunho de como Jesus Cristo transforma

Eduardo Ventura, de chefe da PSP a pastor evangélico
por SÓNIA SIMÕES27 Março 2010


Dedicou-se durante anos à PSP. Esqueceu a família, descurou o descanso e até ganhou a alcunha de 'Diabo', tal o número de detenções que contabilizou. Mudou tudo no dia em que um AVC o derrubou em plena esquadra policial

Os colegas e amigos da PSP ofereceram-lhe o "Diabo" como alcunha. Nas palavras do próprio chefe Ventura, o baptismo era apropriado: homem intransigente, severo, com pitadas de mau humor. "Era", sublinha. Passado. Hoje a alcunha esvaneceu. Eduardo Ventura consagrou-se pastor da Igreja Evangélica da Assembleia de Deus e corre o País a pregar.
"Foi difícil para mim entrar na Assembleia de Deus porque era um homem cheio de pecados", desabafa Eduardo Ventura, 41 anos, quando explica a sua resistência inicial à Igreja Evangélica. "Era um homem severo, rude, mal-humorado. A família para mim era inexistente, só via o trabalho à frente. E era muito revoltado", conta.
O caminho foi-lhe aberto pela esposa. Quando viu Eduardo sofrer um AVC (acidente vascular cerebral) que o derrubou em plena esquadra da PSP, Cidália Chambel, 39 anos, percebeu que o marido estava esgotado. "Ele sofreu um esgotamento nervoso e a medicação não estava a resultar. Decidi ir visitar uma igreja evangélica", recorda.
A visita aconteceu há pouco mais de três anos e Cidália entrou com apreensões. "Pensava que algumas histórias que ouvia não aconteciam de facto", revela.
Pensou assim até ao dia em que o filho mais velho, André, agora com 15 anos, teve de ser submetido a uma intervenção cirúrgica ao coração. As palavras duras e secas dos médicos ainda hoje permanecem--lhe vivas na memória.
"Disseram-me que o meu filho não ia mais praticar desporto de alta competição e dificilmente poderia levar uma vida normal", recorda. Cidália correu para casa. Rezou. O electrocardiograma feito dias depois no Hospital de Torres Novas acusou o contrário. Nada de anormal foi detectado em André.
O episódio chegou para transformar o chefe Ventura. A fé levou--os a dispensar e a dedicar cada vez mais tempo à Igreja e à causa da Assembleia de Deus. Mas tudo parecia insuficiente.
"Propus ao meu pastor a criação de uma Convenção Europeia de Ministros Evangélicos Luso- -Brasileiros", lembra. Uma forma de expandir a Igreja para outros países da Europa. Os resultados, afirma, já se notam em Portugal, França, Suíça e Bélgica. "Não há fiéis como no Brasil, mas começa a haver. E eu quero contribuir para isso", refere. No futuro, a Convenção quer apostar no trabalho missionário em África. "Queremos ir lá ajudar as pessoas e falar de Jesus àqueles que nem sequer o conhecem", revela, ainda sem nenhum destino concreto.
Ser apenas um missionário não chegou ao chefe que actualmente se encontra de baixa médica na PSP. Em Novembro do ano passado, Eduardo Ventura foi consagrado pastor. E é nessa posição que prega de norte a sul do País.
Uma transformação abismal naquela que era a sua vida profissional. Eduardo Ventura era militar da GNR quando, através de um concurso especial, entrou para a PSP, há já 17 anos. Na altura foi colocado na Escola Prática da PSP, em Torres Novas, como instrutor. Ensinava aos polícias as práticas policiais. Hoje ensina a "Palavra de Deus", sublinha.
A promoção a subchefe levou-o para a Divisão da PSP dos Olivais há dez anos. De 2000 a 2005, chefiou as equipas de intervenção rápida que actuavam nos bairros mais problemáticos da divisão.



Contas feitas ao trabalho policial, o chefe Ventura afirma que nesse período fez mais de 800 detenções e arrecadou para a PSP cerca de 200 mil euros em contra- -ordenações. "Não perdoava nada. Por isso me chamavam 'Diabo'", recorda.
A família, a viver no Entronca-mento, ficava dias sem o ver. A mulher, professora licenciada em Línguas e Literatura Portuguesa, conformava-se.
O trabalho operacional terminou no dia em que se sentiu doente. "Não conseguia dar mais", refere. De baixa médica, foi colocado ao serviço da Esquadra de Moscavide, aonde não descarta a hipótese de voltar assim que as juntas médicas a que é sujeito consi- derarem que está apto a trabalhar. Até lá, com Cidália e os dois fi- lhos, André, 15 anos, e Pedro, de 10, corre o País a angariar fiéis. "A comunidade é ainda pequena, mais vai aumentar", garante.

Disponivel em: <http://dn.sapo.pt/gente/interior.aspx?content_id=1529504>, acesso em 10 abril 2010.



O que é a PSP?
A Polícia de Segurança Pública de Portugal, designada por PSP, é uma força de segurança, uniformizada e armada, com natureza de serviço público e dotada de autonomia administrativa. A PSP tem por missão assegurar a legalidade democrática, garantir a segurança interna e os direitos dos cidadãos, nos termos da Constituição e da lei.